Minas Gerais: um sobsolo que fez história
A história da mineração em Minas se confunde com a história da própria formação do Estado de Minas Gerais, a partir da segunda metade do século 17, quando centenas de lavras de ouro de aluvião (encontrado em leitos e margens de rios, córregos e ribeirões) já estavam em plena produção na região central do Estado.

À medida que os mineradores avançavam pelo interior do país, eram criadas as chamadas Vilas do Ouro: Mariana (Vila do Carmo), Ouro Preto (Vila Rica) e Sabará. Posteriormente, outras vilas foram surgindo, como São João del-Rey, Caeté (Vila Nova da Rainha), Serro (Vila do Príncipe) e Pitangui.

Foto: AngloGold Ashanti/Divulgação
O século 18 representou o auge da mineração de ouro no Estado, que chegou a produzir cerca de dois terços de todo o outro extraído no país. Em torno dessa atividade econômica, além da criação das vilas, foram abertas estradas e iniciada a implantação da estrutura administrativa da Coroa Portuguesa no interior do país.
A mineração de ouro gerou riquezas e também levou milhares de pessoas para o chamado sertão. Ao longo do século 17, a população de Minas Gerais passou de 30 mil para 433 mil habitantes. Ouro Preto, sua capital, tinha cerca de 40 mil habitantes em 1730. Algumas década depois, sua população já beirava os 80 mil habitantes.
O período áureo da mineração de ouro foi o século 18. No século 19, veio o esgotamento. Com isso, a economia do Estado começou a entrar em decadência. Só que esse declínio durou pouco. Porque na mesma região onde estava o ouro, começaram a ser descobertas reservas de minério de ferro.
Embora não seja uma regra, o ouro e o minério de ferro podem ser encontrados em regiões próximas devido a processos geológicos que favorecem a concentração de metais em áreas com características geológicas similares. Foi o que aconteceu, em Minas, com o ouro e o ferro.
Estas descobertas abriram caminho para a instalação dos primeiros altos-fornos que fariam a transformação do minério de ferro em ferro fundido. Assim, em 1814, começou a funcionar a Real Fábrica de Ferro de Morro do Pilar, na região da Serra do Cipó e que é considerada a primeira fábrica de ferro do Brasil.
Na mineração de ouro, a mais antiga empresa é a Saint John D’el Rey Mining Company, fundada em 1834 e que, posteriormente, transformou-se na Mineração Morro Velho e hoje é a AngloGold Ashanti.
Papel indutor do Estado
Ao mesmo tempo em que os investimentos privados avançavam, crescia a participação do poder público no estímulo à atividade minerária. Um primeiro movimento nesse sentido veio da Coroa Portuguesa que, ao se transferir para o Brasil, em 1808, contratou o Barão de Eschwege para fazer um diagnóstico da da mineração no Brasil.

Em 1842, o Museu Nacional, criado em 1818, passou por uma reorganização para que pudesse abrigar também o recém-criado setor de “Mineralogia, Geologia e Ciências Exatas”. No ano seguinte, na Secretaria de Estado de Negócios do Império, foi criada a seção de “Agricultura e Mineração”.
Outro passo importante no sentido de se agregar conhecimento à exploração mineral no país se deu em 1876, com a fundação da Escola de Minas de Ouro Preto. De lá saíram os primeiros engenheiros de minas e metalurgistas brasileiros. Hoje, a Escola de Minas faz parte da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop)
Em 1894, no final do século passado, além do ferro e do ouro, um terceiro mineral – o manganês – passou a ser explorado na região central de Minas. A jazida de Morro da Mina, em Conselheiro Lafaiete, está em operação até hoje. De lá, são extraídas cerca de 650 mil toneladas de minério de manganês por ano.
No início do século 20, as pesquisas indicavam que as jazidas de minério de ferro existentes na região central do estado eram muito maiores do que se pensava.
Foi também nos primeiros anos do século 20 que surgiu o Serviço Geológico do Brasil (SGB), em 1907, e que hoje é a Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM).
O ano de 1934 é, na história da mineração brasileira, considerado um ano emblemático. Neste mesmo ano, foi criado o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e entrou em vigor o Código de Mineração. O DNPM existiu até 2018, quando foi transformado na Agência Nacional de Mineração (ANM).
Voltando ao passado
Em 1911, a empresa inglesa Itabira Iron Ore Company foi autorizada a explorar as minas de ferro localizadas na região de Itabira. Só que a trajetória dos ingleses sofreu um corte causado pela eclosão da Segunda Guerra Mundial. É que nesse novo cenário, ocorreu um aumento muito grande da demanda por minério de ferro destinado a produzir armamentos.

Para atender a essa demanda, o governo federal estatizou a Itabira Iron Ore Company, em 1942. Nasceu aí a Companhia Vale do Rio Doce que, cinquenta e cinco anos depois, em 1997, seria privatizada. E hoje é a terceira maior mineradora do mundo.
Porém, a história da mineração em Minas não é só a história da exploração do Quadrilátero Ferrífero, nome que passou a ser utilizado mais comumente em meados do século passado. Nos anos de 1940, teve início a exploração das jazidas de bauxita localizadas próximo de Poços de Caldas, no sul de Minas.
Nos anos de 1950, começou o a exploração do nióbio na região de Araxá, no Triângulo Mineiro. Ao mesmo tempo, expandia-se o número de empresas criadas para operar com a extração de minério de ferro no Quadrilátero Ferrífero.
Os anos de 1970 assistiram à abertura de mais uma fronteira mineral no Estado. Desta vez destinada à exploração do fosfato, que é abundante na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Nos anos de 1990, essa fronteira alargou-se ainda mais, desta vez em direção à Zona da Mata, com o início da exploração das minas de bauxita (matéria prima da produção do alumínio).
Em direção ao futuro
Na linha do tempo da história da mineração em Minas, em pelo menos dois momentos a mineração esteve no centro de decisões que mudariam para sempre a fisionomia do país. O primeiro foi nos séculos 18 e 19, quando a mineração de ouro interiorizou a ocupação do extenso vazio que era o território brasileiro. Além do surgimento de várias cidades, o ouro enriqueceu Portugal, ajudando o país a saldar parte da imensa dívida que tinha, na época, com a Inglaterra.
No século 20, o minério de ferro extraído na região do Quadrilátero Ferrífero, no coração de Minas Gerais sustentou a implantação da moderna siderurgia brasileira, sem a qual o desenvolvimento industrial do país que viria a partir dos anos de 1940, com Getúlio Vargas e, na sequência, Juscelino Kubitscheck, não se sustentaria.
No alvorecer do século 21, Minas Gerais está no centro da terceira revolução mineral de sua história – a que vem acoplada à transição energética para uma economia de baixo carbono. Depois do ouro e do minério de ferro, chegou a vez dos chamados minerais estratégicos – terras raras, nióbio, lítio e grafita, entre outros, fundamentais para uma economia centrada na eletricidade. Mais uma vez, do subsolo mineiro vem a matéria prima dessa nova revolução, ainda em curso.